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Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

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AS CONSPIRAÇÕES ESTÃO A DEIXAR O MUNDO DOENTE

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Todos temos aquele familiar, amigo ou conhecido que há anos nos tenta convencer que foram os alienígenas que construíram as pirâmides do Egipto e as restantes espalhadas pelo mundo, ignorando qualquer argumento científico, antropológico ou histórico que lhes possamos mostrar.  À semelhança de outros fenómenos, este tipo de situação começa a ser mais normal do que devia: pessoas formadas ou educadas pela ciência que estão dispostas a divulgar o maior número de disparates ou de teorias da conspiração que conheçam, sem qualquer questionamento crítico.

 

Por norma, são pessoas que detestam e desconfiam de consensos - como a Terra ser redonda - e que são altamente motivadas e viciadas na adrenalina da controvérsia, do branqueamento ou mesmo da mentira cínica e propositada que suas afirmações geram. Sobretudo, junto de quem lhe demonstre o erro factual daquilo que estão a dizer. Normalmente não procuram o esclarecimento da questão, mas sim alimentar a polémica.

 

Não por acaso, isso começou a surgir não só com a Internet 2.0 e 3.0 (das pessoas e das coisas) como também foi acompanhado por outro fenómeno que aconteceu na televisão: a ocupação das grelhas de programação por reality shows. Com o passar dos anos, com a descida de audiências e com a migração de público para a Internet, juntamente com a adaptação dos modelos generalistas  e de outros canais de nicho que começaram a surgir, a maioria da grelha de programação - até de canais de cariz científico, como o National Geographic, Odisseia, Discovery, etc. - começou a ser transformada em pseudociência, focada na análise de pseudo fenómenos e depois em puros reality shows ou programas de conspiração, recheados de "peritos" autointitulados. Posteriormente, começou-se a amplificar tudo quanto era conspiração ou fenómeno underground, como aconteceu com o 11 de Setembro, o fim do mundo em 2012, entre outros assuntos. 

 

Hoje, chegamos a este flagelo, onde há quem recue vários séculos para defender a ideia paranóica de que a Terra é plana, de que as vacinas são prejudiciais, de existe uma conspiração de esquerda que abusa de crianças para defender o ambiente, de que existe uma ideologia de género, de que o racismo, a xenofobia, a misógina ou o machismo são uma opinião, ou de que as universidades são um antro de perdição ... E quem defende esta narrativa continua a achar-se muito mais esperto e inteligente que qualquer outra pessoa, numa espécie de iluminação que lhe permite ver algo que os demais não alcançam. Este tipo de fenómeno, conhecido por “efeito de Dunning-Kruger” (quando a ignorância de alguém é tão grande que acredita dominar uma área que mal conhece), que já abordei anteriormente aqui, é acompanhado pelo comportamento de Troll.

 

O Troll é uma categoria de utilizador das redes que nasceu com a própria Internet, graças a uma espécie de desconexão com a vida real, apoiada na impunidade, no pensamento dissossiativo, no distanciamento, na falta de autoridade e na dessincronia entre uma reação e outra (como explica  Jamie Bartlett, no livro The Dark Net: Inside the Digital Underworld). É um utilizador que o único objeto dele é irritar, perseguir e desmoralizar o outro, capaz de ir atrás dele de forma incansável e insaciável. Todos sofremos com isso, dos mais expostos aos mais anónimos.

 

Sinceramente, não entendo o que possa motiva alguém a se levantar todos os dias e sair por aí a atacar os outros repetidamente. Porém, o que me parece ser facto é que as pessoas estão a transportar isso para o seu dia a dia, para os parlamentos, para todas as plataformas, como se isso não tivesse consequências. Mas tem. O mal está feito e está a adoecer a sociedade como um todo.

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